Carnaval de mouro

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Carnaval se aproxima e, para entrar nos festejos, publico crônica que há algum tempo tinha compartilhado por meio de minha página no Facebook. Como os leitores do blogue não são necessariamente meus seguidores ou amigos na rede social, não vejo problema em trazer a crônica para cá. Ressalto que não se trata de reprodução ipsis litteris daquele texto, pois dei uma mexida nele. Por outro lado, acrescento que o tema está dentro da proposta do blogue, que é de falar de língua e literatura. O carnaval é mero pretexto para eu discorrer sobre uma palavra.

Tenho dito sempre (virou até um bordão) que trabalho feito um mouro, por isso a fantasia que melhor me cai neste carnaval é a de mouro, ademais porque no carnaval, para não perder o hábito, vou trabalhar feito um mouro. Em resumo: vou MOUREJAR.

Gosto desse verbo porque ele se parece comigo. É um verbo intransitivo, quer dizer, não tem complemento. Sozinho ele se basta para predicar um sujeito qualquer. No máximo, ele admite uma companhia circunstancial como em Ele mourejou muito, se bem que isso é redundante, porque mourejar já contém a ideia de intensidade.

Esse verbo vem de mouro, habitante da Mauritânia, mas refere-se também aos povos árabe-berberes do norte da África, que pelo jeito deviam trabalhar feito camelos. Mouro e Mauro são equivalentes. Acho então que meus pais deveriam ter me chamado de Mauro em vez de Ernani, que lembra ópera de Verdi.

MOUREJAR se formou pelo acréscimo do sufixo -ejar a mouro (mouro + -ejar = mourejar). Sufixo é um pedacinho de palavra que você acrescenta ao final de outra. Esse sufixo -ejar confere um aspecto ao verbo. Aspecto é como um observador vê ação: se ela já acabou ou não, se está no começo, no meio ou no fim etc. O tal do -ejar dá ao verbo um caráter durativo, ou seja, o processo não é visto nem no seu começo, nem no seu final, mas em sua duração. E mais: o -ejar é também frequentativo, quer dizer, o processo é visto como algo que fica se repetindo como marchinha de carnaval em bailes de salão. Enfim, mourejar é trabalhar muito, ou mais popularmente, trabalhar pra karai. Então tanto faz você dizer que vai MOUREJAR ou trabalhar pra karai. São duas maneiras de dizer a mesma coisa. O pessoal diz que trabalhar pra karai é uma variante de mourejar. Eu gosto mais do mourejar do que do pra karai.

Neste carnaval vou trabalhar feito um mouro, vou mourejar, enfim, vou trabalhar pra karai, trabalhar pra kct ou, como se dizia antigamente, trabalhar às pampas, à beça, às pamparras.

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2 Comentários


    1. Moreno em português viria do espanhol ‘moro’ que designava o habitante da Mauritânia, portanto tem relação direta com forma portuguesa mouro. Moreno passa a ser usado em espanhol para designar aqueles cuja cor da pele é similar à dos ‘moros’. Enfim, moreno vem do espanhol e tem na sua origem a palavra ‘moro’; mouro, em português.

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