O jogo da carona, de Milan Kundera

Tempo de leitura: 2 minutos

Neste artigo, falo do conto O jogo da carona, do livro Risíveis amores, do escritor checo Milan Kundera, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, com tradução de Teresa Bulhões Carvalho da Fonseca.

Sobre este livro, Kundera diz algo que A. J. Greimas dizia a seus alunos. O ensinamento de Greimas chegou até mim pela voz de uma de suas discípulas, Diana Luz Pessoa de Barros, que me deu a honra de supervisionar pesquisa que desenvolvi sobre o discurso da interdição na obra Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso.

Diana conta que Greimas dizia que as pessoas só têm o direito de ser eclético até os 30 anos. Kundera diz o mesmo com as seguintes palavras a propósito de Risíveis amores.

“Até os trinta anos, escrevi várias coisas: música, sobretudo, mas também poesia e até uma peça de teatro. Trabalhava em várias direções diferentes – buscando minha voz, meu estilo e a mim mesmo. Com o primeiro relato de Risíveis amores (escrevi-o em 1959), tive a certeza de ‘ter-me encontrado’. Tornei-me prosador, romancista, e não sou nada mais que isso”.

Mas vamos direto aos finalmentes. Em Risíveis amores, há sete contos muito bons, mas um mexeu muito comigo, O jogo da carona. Ao contrário dos outros seis, esse conto nada tem de risível, pelo contrário, é bastante violento. Uma violência que surge de uma brincadeira entre namorados. Que namorados já não brincaram de interpretar papéis, de assumirem cada um uma personagem? Esse tipo de jogo tem a ver com o jogo da sedução. A máscara tem um caráter desinibitório, na medida em que quem fala se esconde atrás da personagem. Pois o casal começa um jogo desse tipo. Um jogo em que se joga a sedução de um pelo outro. As personagens crescem e vão eclipsando os jovens namorados, que de repente não são mais eles próprios, mas as personagens que resolveram interpretar no jogo. E um jogo não se pode parar no meio, tem de ser jogado até o final. Num determinado momento, o jovem já não vê mais a namorada, mas a personagem que ela representa. As coisas começam a ficar tensas e violentas. Ela quer que o jogo termine e eles voltem a ser eles mesmos, mas o rapaz já não consegue mais separar a namorada da personagem e vai levar o jogo até o fim.

Uma porrada.

2 Comentários


  1. Olá, Ernani!

    Acabei de ler o livo “Risíveis Amores” do Milan Kundera e coincidentemente acabo de encontrar também seu blog e seus comentários sobre o conto “o jogo da carona”. Amei o conto! Ele é um soco no estômago! Na brincadeira dos personagens temos vários lampejos dos desejos ocultos na alma principalmente da jovem, e uma amálgama incômoda de realidade e brincadeira, que revelou algo que ambos não tiveram como suportar. Gostei muito!

    Forte abraço!

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