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Li numa sentada e recomendo com entusiasmo, sobretudo para os interessados em literatura para crianças e jovens, o livro Por uma literatura sem adjetivos, da argentina María Teresa Andruetto, publicado pela Editora Pulo do Gato, em tradução de Carmem Cacciacarro, com apresentação de Marina Colasanti. O livro recebeu, em 2012, o selo Altamente Recomendável pela FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil).
A obra apresenta doze textos da autora, onze deles lidos em congressos, seminários e feiras do livro. São textos curtos, em linguagem objetiva, sem tecnicismos, portanto acessíveis ao público geral. Os temas das falas de Andruetto envolvem questões relativas à literatura em si, especialmente a destinada a jovens leitores, o cânone, o caráter utilitário da literatura infantil e juvenil, a relação entre editoras e autores com o público e, por extensão, com professores.
São excelentes os textos em que Andruetto desnuda um fato comum também entre nós: a mercantilização da literatura para jovens. Como autora, ela conhece muito bem as relações entre autor e editor e mostra a tendência, hoje dominante, de se produzir o que é venda certa, obras que ela chama de literatura à la carte, que se vale, inclusive, do recurso de transformar autores em um produto que faz publicidade de si mesmo. É claro que há muita coisa séria sendo publicada e Andruetto comenta isso.
Um dos textos, o mais longo deles, chamado Algumas questões sobre a voz narrativa e o ponto de vista, é uma verdadeira aula, em linguagem simples e direta e com farta exemplificação, sobre o papel do narrador e do ponto de vista na obra ficcional, seja para jovens ou adultos. Para quem se interessa pela questão do foco narrativo, esse texto é de leitura obrigatória.
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Estimado Ernani Terra, sabe tão bem como eu que os adjectivos, se existem, são para ser usados. Uma «prosa» sem adjectivos não é literatura nem será alguma coisa, nem as línguas deste nosso único mundo seriam o que são hoje. A recusa do adjectivo, em literatura e fora dela, é um mau conselho e um péssimo título para um livro que penso ter intenções didácticas. Devia dar-se a ler à autora argentina os dois primeiros decassílabos da canção IX de Camões, fixador da Língua Portuguesa e seu génio. Sete adjectivos, nem mais, em dois dos mais belos decassílabos em Português.
«CANÇÃO IX
«Junto de um seco, fero e estéril monte,
inútil e despido, calvo, informe»
Nota: deve ler-se ou escutar-se toda a canção IX para se perceber a grandeza de tal começo, que é com estes versos que a composição se inicia. «É de se arrancar a pele», disse-me alguém, referindo-se ao poema inteiro.
Com os meus cumprimentos,
Nuno Dempster
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Nuno,o tema do post é outro como deixo claro na na resenha.
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Professor, mais outro ótimo texto.
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Professor, mais outro ótimo texto.