Emprego do infinitivo

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Umas das maiores dificuldades que os usuários da língua têm é o uso correto do infinitivo, particularmente a forma flexionada, chamada também de infinitivo pessoal. Sem pretensão de esgotar o assunto, apresento algumas orientações para o uso do infinitivo.

O infinitivo é chamado de forma nominal do verbo porque, em muitos contextos, assume um papel de substantivo. Pode-se dizer que o infinitivo é um substantivo verbal que apresenta diversos usos. Pode, inclusive, vir acompanhado de um termo que complete seu sentido ou lhe acrescente uma circunstância qualquer, como se observa nos exemplos abaixo.

Viver é muito perigoso.

A nutricionista me recomendou cortar os carboidratos.

Dirigir sem habilitação é infração gravíssima.

Como substantivo verbal, o infinitivo pode desempenhar diversas funções sintáticas:

sujeito: Navegar é preciso, viver não é preciso.

predicativo: Meu maior desejo é viajar.

objeto: Espero retornar.

aposto: Só desejo uma coisa: dormir.

Em português, além do infinitivo impessoal, que não se flexiona (amar, vender, partir), há também o infinitivo pessoal, que se flexiona em pessoa e número para concordar com um ser determinado, o sujeito, como se pode observar nos exemplos que seguem, em que os sujeitos estão destacados.

Deram o livro para tu leres.

Deram o livro para nós lermos.

Deram o livro para vocês lerem.

Deram o livro para os alunos lerem.

O infinito aparece, sobretudo, nas orações subordinadas, aquelas que dependem sintaticamente de outra, denominada oração principal.

Não é fácil sistematizar o emprego do infinitivo; pois há oscilações até mesmo entre os gramáticos. Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova gramática do português contemporâneo, afirmam que

“O emprego das formas flexionadas e não flexionadas do infinitivo é uma das questões mais controvertidas da sintaxe portuguesa. Numerosas têm sido as regras propostas pelos gramáticos para orientar com precisão o uso seletivo das duas formas. Quase todas, porém, submetidas a um exame mais acurado, revelaram-se insuficientes ou irreais.”

(CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley Cintra. Nova gramática do português contemporâneo. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Lexikon. 2007, p. 485).

Em muitos casos, a opção pela forma flexionada ou não flexionada está relacionada a questões de estilo e/ou de ênfase; por exemplo, usar o infinitivo impessoal para destacar a ação em si ou usar o infinitivo pessoal para dar ênfase ao sujeito da ação. Em suma: em vez de regras, o que há são tendências, que, de uma forma simples e didática, apresento abaixo.

Emprega-se o infinitivo não flexionado:

  1. quando ele não estiver se referindo a sujeito nenhum.

É proibido fumar.

2. quando funciona como complemento de um adjetivo. Nesse caso, virá regido por preposição.

Está apto a trabalhar.

Isso é fácil de resolver.

3. quando funciona como verbo principal de uma locução verbal. Nesse caso, a flexão ocorre no verbo auxiliar. Poder estar relacionado ao verbo principal sem ou com preposição.

Todos devem comparecer na hora e local determinados.

Cássia acabou de sair.

4. quando empregado com valor de imperativo.

Fazer uma fila, por favor.

Apresentar armas!

5. nos casos em que o infinitivo for dependente dos verbos causativos (deixar, fazer, mandar) e sensitivos (ouvir, sentir, ver e sinônimos) e o sujeito for representado por um pronome pessoal.

Nesse caso, trata-se de infinitivo não flexionado, mas não impessoal, porque se considera o pronome pessoal como sujeito do infinitivo.

Mandei-o comparecer à secretaria.

Não os vi chegar.

Obs.: Caso o sujeito do infinitivo seja representado por um substantivo, emprega-se a forma flexionada.

Mandei os alunos comparecerem à secretária.

Não vi os professores chegarem.

Emprega-se o infinitivo flexionado:

  1. quando tiver sentido pessoal, ou seja, quando estiver se referindo a um ser determinado, um sujeito diferente do da oração a que está subordinado, expresso ou implícito.

A única solução era eu e minha esposa permanecermos na fila.

A regra é os idosos sentarem e os jovens ficarem de pé.

Obs.: caso o sujeito, mesmo que seja o mesmo da oração principal, venha expresso antes do infinitivo, deverá se flexionar o infinitivo fazendo a concordância com o sujeito.

Para nós assinarmos o contrato, exigimos a revogação da cláusula 12.

2. quando não se pode ou não se quer determinar o sujeito do infinitivo (sujeito indeterminado). Para isso, deixa-se o infinito na terceira pessoa do plural.

Em algum lugar, ouvi dizerem que ele seria demitido.


O emprego dos modos, tempos e formas nominais do verbo é tratado em nosso Curso prático de gramática, publicado pela Editora Scipione.

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