Kaschtanka: um conto de Tchékhov

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No artigo, trato do conto ‘Kaschtanka’, de Anton Tchékhov (1860 – 1904). Esse conto tinha sido publicado numa edição caprichada da Cosac & Naify, mas com o fechamento da editora, virou raridade. Outras edições apareceram, como a da Boa Companhia (selo da Companhia das Letras), que apresenta, além de ‘Kaschtanka’, mais seis contos, todos muito bons e a da Editora 34, no livro O beijo e outras histórias. Em ambas em tradução direta do russo por Boris Schnaiderman.

‘Kaschtanka’ é uma obra-prima. Narra a história de Kaschtanka (nome russo que significa Castanha), uma cadela ruiva, mistura de bassê com vira-lata, que, num certo momento, se vê perdida de seu tutor, um marceneiro que vivia bêbado e que mora com o filho.

Kaschtanka, encontrada na rua com muita fome, é adotada por um novo tutor, cujo nome não é explicitado no conto, que passa a chamá-la de Titia. Na nova casa, é bem alimentada e vive na companhia de um ganso cinzento, Ivan Ivánitch, e de um gato branco, Fiódor Timofiéitch. Num aposento fora da casa, vive também uma porca negra, Khavrônia Ivânovna. Esses animais recebem “aulas” do tutor. Depois de um mês, já adaptada ao novo lar e já com o peso recuperado graças à alimentação recebida no novo lar, Titia passa, assim como os outro moradores, também a receber “aulas”.

A história é narrada do ponto de vista de Kaschtanka / Titia, o que torna o conto genial. Veka , por exemplo, a descrição de um elefante: “…tinha um rabo no lugar do nariz e dois ossos compridos, roídos em volta, que lhe saíam da boca.” O leitor logo percebe que as aulas que o tutor ministrava aos animais eram para se apresentarem no circo. O tutor, vestido como um palhaço, era responsável por um número com os animais de que cuidava.

A certa altura d narração, o leitor toma conhecimento de que o ganso começa a passar mal e a manifestar a doença por meio emitir de sons que acordam todos na casa. Apesar das tentativas do tutor para socorrê-lo e salvá-lo, o ganso morre. Esse é um dos momentos mais pungentes do como porque Kaschtanka e o gato Fiódor descobrem o que os animais morrem e eles, portanto, um dia vão morrer também. Dou a voz a Tchékhov, que assim nos relata isso: “Titia tinha a impressão de que com ela ia acontecer o mesmo, isto é, que ela também, sem que se soubesse por quê, fecharia de modo idêntico os olhos, estenderia as patas, arrenganharia os dentes e todos haveriam de olhá-la horrorizados”.

A vida, porém, tem de continuar e os animais vão para o circo pois têm de trabalhar. Na hora da apresentação, Kaschtanka / Tina vê, do picadeiro, sentados na plateia, o antigo tutor com o filho…

O conto se aproxima do final e o conflito está instalado. Kaschtanka / Tina tem de decidir de volta a ser Kaschtanka e volta para o antigo lar e tutor, ou se continua a ser Tina, continuando no novo lar e novo tutor.

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