Romance policial

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Tem gente que considera o gênero romance policial subliteratura. Claro que há romances policiais ruins, particularmente aqueles que trapaceiam o leitor, mas há os que se aproximam daquilo que se convencionou chamar de alta literatura.

Um dos meus autores preferidos de romances policiais é Raymond Chandler (1888 -1959). Não trapaceia o leitor, o que é não é raro em romances do gênero, sabe criar uma atmosfera por meio de descrições de ambientes e personagens, tem estilo, é de uma ironia finíssima e criou um dos melhores detetives policiais, o misógino e chegado a um copo, Philip Marlowe. Em romances em que se narram assassinatos, o leitor se pega muitas vezes rindo, como nas passagens a seguir de seu romance Adeus, minha querida.

Descrevendo Malloy, um sujeito muito forte que ficou oito anos preso, que agora livre, procura sua namorada, Marlowe, que é o narrador, diz que Malloy era um sujeito “tão imperceptível quanto uma tarântula numa fatia de manjar branco”, que tinha “uma mão onde eu caberia sentado” e que “era capaz de tomar o revólver da minha mão e comê-lo”.

Nas descrições de ambientes também recorre à exageração, criando efeitos de sentido de humor. Sobre uma mansão em que vive uma das personagens da história diz: “a casa em si não era grande. Era menor do que o Palácio de Buckingham” e que nela “via-se um tapete fino como seda e velho como a tia-avó de Esopo”.

As melhores ironias são as relativas ao gosto de Marlowe (e de Chandler, é claro) pelo álcool. Em seus romances, consome-se tanto álcool, que o leitor corre o risco de embriagar-se por tabela (rsrsrs). Numa das passagens em que lhe é servido um uísque, Marlowe diz que ficou “tentando segurar o copo de modo que o uísque continuasse dentro”.

Para quem gosta de romance policial, há um ótimo texto teórico de Raymond Chandler sobre o gênero. Chama-se “A simples arte de matar”. Esse ensaio aparece no volume 1 do livro de mesmo nome, publicado pela L&PM em tradução de Beatriz Viégas-Faria.