Nora Rubi

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Neste post falo sobre o conto Nora Rubi, de Rubem Fonseca, que faz parte do livro Ela e outras mulheres, publicado pela Companhia das Letras. Todos os contos, como deixa antever o título, se desenvolvem em torno de personagens femininas. 

A primeira frase do conto dá a chave: “Meu nome é Nora Rubi. O Nora é verdadeiro, mas o Rubi é falso“. O leitor e arrastado de cara para a oposição /verdade vs. mentira/. Como no filme Verdades e mentiras (F for Fake, 1973), dirigido por Orson Welles, ele será levado nesse jogo entre o ser e o parecer. Vou chamar de verdade aquilo que parece e é, e de mentira aquilo que parece mas não é.

Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa cuja narradora é uma cleptomaníaca, que não vê imoralidade no que faz (no filme de Welles, é a falsificação de obras de arte). Afirma que não é uma ladra e rouba coisas sem valor material algum, como a primeira coisa que roubou: uma folha de papel com garranchos. Da lista de coisas roubadas, constam: uma espátula, uma batata, uma calcinha, um livro de poesias de Drummond, cinzeiros de restaurantes…

O que a leva para cadeia é o roubo de uma bijuteria. Nora estava numa festa de aniversário e, quando vai ao banheiro, encontra uma mulher que tira o colar para retocar a maquiagem. Vendo que Nora reparava no colar, a mulher diz que é uma bijuteria. Nora rouba o colar. A mulher, percebendo o roubo, começa a gritar que lhe roubaram seu colar de brilhantes (o colar parece falso mas não é). Um homem segura a mulher e começa a gritar com ela: Brilhantes verdadeiros? Você disse que comprou no camelô! Quem te deu esse colar, sua adúltera? A mulher, desesperada, começa a mexer em seus brincos e pulseiras para se certificar se também não tinham sido roubados (os brincos e pulseiras parecem mas não são falsos). O marido começa a xingá-la e esganá-la. Nora dá então um berro tão alto, que o marido para de esganar a mulher. E, quando se faz silêncio, Nora devolve o colar à mulher, dizendo que o tinha roubado. Nesse instante, chega a polícia e prende Nora.

Se você estiver com a sensação de ter lido algo semelhante, não está enganado. O conto clássico segue um desses dois modelos: Tchekhov ou Maupassant. Nora Rubi é uma homenagem ao mestre Maupassant por meio de uma relação intertextual com o conto As joias.

Se não lembram ou se ainda não leram, em As joias, a personagem feminina adorava duas coisas: ir ao teatro e usar joias. Como era casada com um simples funcionário, usava bijuterias. A mulher morre e o marido, sem recurso financeiro algum, resolve vender por qualquer trocado as bijuterias da mulher. Para sua surpresa, descobre que são joias verdadeiras e valiosíssimas (parecem falsas mas não são). Vende todas elas, abandona o emprego e casa-se novamente. Sua segunda mulher era honesta, mas de gênio difícil e o fez sofrer bastante.

Minha sugestão é que leiam o livro de Rubem Fonseca. É ótimo. Para quem gosta do tema que Orson Welles explora em Verdades e mentiras, há um livro excelente, publicado pela Companhia das Letras, Eu fui Vermeer, de Frank Winne, que narra a história do holandês Han van Meegeren, um dos maiores falsários de todos os tempos e especialista em falsificar quadros de Vermeer.

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