Aluga(m)-se casas

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Retomo o assunto concordância de verbo seguido do pronome se em construções do tipo Alugam-se / Aluga-se casas, já tratado aqui no post (ver aqui).

Muita gente, para justificar que, em construções do tipo Aluga-se esta casa, há um sujeito expresso (esta casa) e que o se seria um pronome apassivador, justificam dizendo que essa construção é equivalente a Esta casa é alugada, o que confirmaria a “voz passiva”, e que o sujeito da oração é esta casa.

Muita tinta já se gastou com essa questão; mas, para mim, a justificativa mais simples e direta que desmorona a tese da equivalência das construções é dada por Said Ali em seu livro Dificuldades da língua portuguesa (Livraria Acadêmica, 1966, minha edição é a 6a.). Diz o mestre na p. 98:

“Tem-se dito que a nossa forma reflexiva se identifica com a voz passiva. Apesar das restrições que todos concedem, que são forçados a conceder, tenho a afirmação por leviana, a começar pelos exemplos banais com que a esteiam. Aluga-se esta casa e esta casa é alugada exprimem dois pensamentos, diferentes na forma e no sentido. Há um meio muito simples de verificar isto. Coloque-se na frente de um prédio um escrito com a primeira das frases, na frente de outro ponha-se o escrito contendo os dizeres esta casa é alugada. Os pretendentes sem dúvida encaminham-se unicamente para uma das casas, convencidos de que a outra já está tomada. O anúncio parecerá supérfluo, interessando apenas aos supostos moradores, que talvez queiram significar não serem eles os proprietários. Se o dono do prédio completar, no sentido hipergramatical, a sua tabuleta deste modo: esta casa é alugada por por alguém, não se perceberá a necessidade da declaração e os transeuntes desconfiarão da sanidade mental de que quem tal escrito expõe ao público”.

Em outro parágrafo o mestre de todos nós continua.

“Admitir um sentido passivo é admitir a possibilidade de um agente ou “complemento de causa eficiente” tanto oculto como expresso. E, pelo menos, por essa razão que se invocam, em favor da hipótese: reflexivo igual a passivo, alguns exemplos plausíveis na aparência. Contradizem-se, todavia, os que argumentando se prevalecem de tais passagens; porque, de duas uma: ou não se deve, segundo sentenceiam (sic), empregar a “partícula apassivadora” com agente claro, e portanto desconfiaremos dos casos em contrário; ou então a regra nada vale, e estamos autorizados a imitar afoutamente os exemplos com que agora se vem argumentar”.

Roma locuta, causa finita.

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