Arábia

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Neste post, falo de um conto do irlandês James Joyce. Trata-se de “Arábia”, que faz parte do livro Dublinenses, publicado no Brasil pela BestBolso, com tradução de Hamilton Trevisan.

Um narrador, corporificado no texto, filtra os acontecimentos, trazendo à lembrança um acontecimento da infância. Resumidamente segue a história.

O menino, morador num bairro pobre, vive como toda pessoa de sua idade, brincando com os amigos na rua. Fora as brincadeiras, seu o prazer era espiar a irmã de um colega e, emocionado, chegava a segui-la todas as manhãs. Só pensa nela, seus olhos se enchem de lágrimas por ela. Quando a vê, murmura para si mesmo: Oh! Amor, amor!

Um dia, ela lhe dirige a palavra, perguntando-lhe se ele não pretendia ir ao Arábia, local em que haveria uma quermesse. Ela lhe diz que não poderia ir porque teria compromisso no colégio e insiste para que ele vá. O menino diz a ela: Se for, trago-lhe uma lembrança.

A partir daquele dia, começa a sonhar loucuras e só a imagem dela lhe ocupa o pensamento. Quando chega o dia da quermesse, ele vai para a escola, esperando que mais tarde o tio lhe desse dinheiro.

Quando chega a hora do jantar, o tio ainda não havia retornado e o desespero começa a tomar conta do menino. O tio só chega às 9 da noite. Ao pedir o dinheiro, o tio lhe diz que a esta hora todos já estão dormindo. A tia intervém e pede que dê o dinheiro ao menino.

Com o dinheiro na mão, o menino corre para a quermesse; mas, ao chegar lá, encontra quase todas as barracas já fechadas. Numa, que ainda não fechara, uma moça discute com dois rapazes. A moça pergunta ao menino se ele quer algo e ele diz que não, enquanto ouve um aviso informando que as luzes vão se apagar. Retira-se, considerando-se um pobre coitado, vítima de uma vaidade estúpida.

“Arábia” é um belo conto sobre a descoberta do amor, uma imagem impregnante, na medida em que ficará retida na memória como experiência irrepetível.

O conto acompanha o percurso de um menino que quer dar um mimo à irmã do amigo. Esse mimo, como nos contos maravilhosos, é um objeto mágico, na medida em que permite ao menino conquistar a amada.

O conto traz o tema do primeiro amor, que nos leva a assumir tarefas que não conseguimos cumprir, obrigando-nos à renúncia desse amor. Fica uma pergunta: Será que a gente não se esquece do primeiro Amor por ter sido ele o primeiro a que tivemos de renunciar?
“Arábia” é um anti-conto de fadas, cujo título é significativo como lugar de sonhos.

PS.: O livro Dublinenses traz 15 contos. O último deles, “Os mortos” foi adaptado para o cinema por John Huston. O filme é de 1987 e se chama Os vivos e os mortos. No link, uma cena do filme em que o personagem Sr. Grace declama o lindíssimo poema Votos partidos.

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