Cidadões pseudosintelectuais

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Nesta semana, tomou posse o novo presidente do INEP (Instituto Nacional e de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Marcus Vinicius Carvalho Rodrigues.

Em seu discurso de sua posse, que foi lido, Rodrigues comete alguns deslizes gramaticais. Atendendo aos jornalistas, comete outro. A imprensa deu destaque ao assunto, que viralizou nas redes sociais.

Estava dada de bandeja para os partidários de Dilma e Lula darem o troco agora, já que esses dois presidentes eram alvo de chacotas de seus opositores quando cometiam deslizes gramaticais. Pau que bate em Chico também bate em Francisco. Chegou a vez de os partidários e admiradores de Bolsonaro levarem no lombo.

No discurso lido e, portanto previamente elaborado por Rodrigues ou seus assessores, há dois deslizes gramaticais. O primeiro consistiu na flexão do substantivo cidadão. A forma usada por Rodrigues (cidadões) contraria o que prescrevem gramáticas, dicionários e o Volp (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras), que apontam como forma correta CIDADÃOS. O segundo consistiu em flexionar no plural o elemento de composição PSEUDO, que é invariável não só em número mas também em gênero. Assim, segundo as gramáticas normativas, formas como pseudoSintelecutais (a que foi a usada por Rodrigues) e pesudAintelectual não são consideradas corretas, segundo essas gramáticas. O terceiro desvio ocorre no momento em que Rodrigues fala à imprensa e diz que “…fazer com que esse banco de questões priorizem“, em vez de “… esse banco de questões priorize“. Esse desvio às normas de concordância é frequente uma vez que o falante em vez de concordar com a palavra que funciona como núcleo (no caso, banco) faz a concordância com a palavra que está mais próxima ao verbo (no caso, questões).

Os primeiros erros poderiam e deveriam ter sido facilmente evitados uma vez que um texto escrito deve ser lido e revisado antes de ser dado a público. Falha imperdoável de Rodrigues. O segundo é mais ou menos inevitável, porque quando usamos a linguagem falada afrouxamos no policiamento gramatical.

Pensando nos deslizes gramaticais do novo presidente do INEP, me vem à cabeça uma frase de Horácio que costumo usar quando o(a) revisor(a) me chama a atenção sobre um erro que cometi. A título de brincadeira, respondo a ele com a frase do poeta latino: Quandoque bonus dormitat Homerus. Traduzindo o latinório: Até o bom Homero às vezes cochila.
Se até o grande Homero, autor dos dois maiores poemas épicos da literatura ocidental, Ilíada e Odisseia, às vezes falha, Marcus Vinicius Carvalho Rodrigues, presidente do INEP, que está bem longe de ser um Homero, também pode falhar na flexão das palavras.

O problema da fala do atual presidente do INEP não reside nos “erros gramaticais” em si, mas naquilo que seu discurso revela. O que me preocupa não são os “erros gramaticais” perpetrados pelos integrantes da atual equipe do governo (por esses erros eu passo batido), mas o conteúdo de suas falas. Minha preocupação é que, quando ouço integrantes da equipe do atual governo, o que percebo por detrás dos erros gramaticais é uma fala de pessoas toscas e despreparadas para ocuparem o cargo que ocupam.

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