Classes de palavras

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Classificar é distribuir em classes segundo um método de classificação. Implica, pois, agrupar seres ou coisas a partir de características comuns. Trata-se de procedimento comum a diversas áreas do saber. 

Nos estudos de língua, recorremos sempre à classificação. Podemos, por exemplo, classificar as palavras de acordo com:

· o número de sílabas: monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos

· a posição da sílaba tônica: oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas.

Uma língua apresenta um número muito grande de palavras. O léxico é um conjunto aberto na medida em que palavras novas surgem e são a ele incorporadas. O conjunto das palavras da língua portuguesa costuma ser agrupado, com base em características comuns,  em dez classes, chamadas classes de palavras. São elas: o artigo, o substantivo, o adjetivo, o numeral, o pronome, o verbo, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição.  

Dentro de uma classe pode haver subclasses. Assim, os substantivos podem ser classificados em próprios e comuns; concretos e abstratos; primitivos e derivados e coletivos. Os pronomes também apresentam subclasses: pessoais, possessivos, demonstrativos, relativos, indefinidos. Os numerais apresentam as subclasses dos cardinais, dos ordinais, dos fracionários e dos multiplicativos.

Há casos em que uma subclasse pode apresentar subclasse dela, por exemplo, na classe dos pronomes, temos a subclasse dos pronomes pessoais  e, dentro dessa subclasse, a subclasse dos pronomes retos e dos oblíquos. Pode ocorrer ainda de uma mesma palavra pertencer a mais de uma subclasse. Exemplo: a palavra pedreiro (classe dos substantivos) pertence ao mesmo tempo às subclasses comum, concreto, derivado.

Como assinalei, toda classificação é baseada num critério. E qual o critério para classificar as palavras na língua portuguesa?

Embora costume ser tratada numa parte da gramática chamada morfologia, a classificação das palavras não se baseia em apenas em aspectos formais, pois leva em conta também critérios semânticos (o sentido da palavra) e critérios sintáticos (sua função no interior da frase). É fácil entender isso. Quando as gramáticas dizem que o substantivo é a palavra que dá nome aos seres, estão se valendo de um critério semântico, o sentido que a palavra veicula. Quando se diz que o artigo é a palavra que determina o substantivo e que o advérbio é a palavra que modifica um verbo, a gramática está classificando essas palavras com base no critério sintático (a função que elas desempenham na frase). Quando se afirma que o verbo é a palavra variável que apresenta as flexões de tempo, modo, número e pessoa, o critério é o morfológico.

Das dez classes de palavras, seis são variáveis (artigo, substantivo, adjetivo, numeral, pronome e verbo). O advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição são classes invariáveis. Uma palavra é variável quando admite flexões. Em português, temos  as seguintes flexões: a) número (singular / plural); b) gênero (masculino / feminino); c) pessoa (1ª, 2ª, 3ª); d) tempo (presente, pretérito, futuro); e) modo (indicativo, subjuntivo, imperativo). Apenas o verbo, apresenta as flexões de tempo e modo. A flexão de pessoa aparece nos verbos e nos pronomes. O quadro a seguir mostra os tipos de flexão que as classes de palavras variáveis apresentam.

gêneronúmeropessoatempomodo
artigo++
substantivo++
adjetivo++
numeral++
pronome+++
verbo++++

Como se pode observar, o verbo é a classe que apresenta o maior número de flexões, por isso não temos muita dificuldade em reconhecer que uma palavra é verbo.

Embora gramáticas tradicionais costumem incluir grau como um tipo de flexão, a alteração de grau de uma palavra não se configura flexão, mas derivação.

Isso posto, na classificação de uma palavra devemos sempre levar em conta esses três critérios. Assim, uma definição completa e precisa de adjetivo deve ser:

Adjetivo é uma palavra variável em gênero e número cuja função é caracterizar um substantivo (ou palavra que ocupe o lugar de um substantivo), exercendo a função de adjunto adnominal ou de predicativo.

É sempre bom estar atento que a definição que se dá a uma classe de palavra, apresenta as características comuns da maioria das palavras daquela classe, mas não de todas. Assim, embora a definição de adjetivo diga que se trata de classe de palavra variável em gênero e número, há adjetivos que não variam em gênero (inteligente, útil) e outros que não variam nem em gênero nem em número (simples, reles).       

Na classificação de uma palavra, o critério sintático deve ser sempre levado em conta, porque uma mesma forma linguística pertencerá a classes diferentes, se exercer função diferente na frase; por isso é sempre importante observar o contexto (a frase) em que a palavra é empregada. Mesmo fora de contexto, não temos dificuldade em reconhecer que a palavra morrer é verbo e que bonito é adjetivo, mas com muitas palavras a classificação só será possível se tivermos o contexto.

Na frase Luana era uma professora paciente, paciente é adjetivo, pois se refere a um substantivo (professora), exercendo a função de adjunto adnominal. Do ponto de vista semântico, exprime uma característica do ser a que se refere (calma, que não se irrita com facilidade, que tem paciência).

Na frase A paciente do quarto 812 teve alta médica hoje de manhã, paciente é substantivo, pois funciona como núcleo do sujeito e vem determinado por artigo. Do ponto de vista semântico, nomeia um ser (pessoa que está sob cuidados médicos).

Veja outro exemplo. Numa manifestação contra o aumento de ônibus, um dos manifestantes levantou um cartaz com os seguintes dizeres:

CIDADE MUDA NÃO MUDA.

O primeiro “muda” caracteriza o substantivo cidade concordando com ele e exerce a função de ajunto adnominal. Do ponto de vista semântico, tem o sentido de ‘sem voz’, ‘calada’. No contexto, assume o sentido de “que não protesta’, ‘que não se manifesta’. É um adjetivo, portanto.

O segundo “muda”, do ponto de vista sintático, funciona como núcleo do predicado. Do ponto de vista semântico, exprime um processo, a ação de mudar, o sentido é ‘transformar-se’, ‘sofrer mudança’. Trata-se de uma forma do verbo mudar, mais precisamente, a 3ª pessoa do singular do presente do indicativo.

Por fim, destaco que, quando fazemos o estudo das palavras sob os critérios morfológico e sintático ao mesmo tempo, estamos no domínio da morfossintaxe.

Para encerrar , apresento um quadro-resumo com as dez classes de palavras em português, destacando os critérios dessa classificação.


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2 Comentários


  1. Boa noite, sr. Ernani Terra. Gostaria de aproveitar a ocasião do texto para lhe fazer uma pergunta sobre o novo acordo ortográfico da língua portuguesa, em especial o caso das paroxítonas e proparoxítonas. Peço, inclusive, se possível, (caso não tenha disponível o tema no blogue) para que o senhor escreva um texto futuramente sobre este assunto.
    A questão é: em meus estudos sempre tive o costume de associar as regras de acentuação das palavras de acordo com a tonicidade de suas pronúncias. Ao ter em mente a tonicidade das pronúncias, também as adoto na escrita. Entretanto ao fazer uma pesquisa de tiragem de dúvidas no google, vi que a palavra “história” possui a separação silábica firmada, atualmente, como “his-tó-ri-a”. Ao pesquisar um pouco mais vi que isso também se classificava como um caso de proparoxítona acidental. Todavia, minha dúvida é exatamente aí. As duas formas estariam corretas? Pois comentando com alguns amigos, parte deles me disse que já ouviram de diversos professores que a forma “his-tó-ria” seria uma forma antiga e ultrapassada, pedindo para que se considere a já referida forma “his-tó-ri-a”.

    Sintetizando a minha dúvida: É realmente ultrapassado classificá-la como paroxítona terminada em ditongo oral crescente? A regra de acentuação dessa e de outras palavras semelhantes deve ser considerada somente como proparoxítona? Ou as duas estão corretas e essa seria uma questão de divergência entre gramáticos?

    Aguardo sua resposta.

    Ps: Suas aulas do youtube são excelentes. Parabéns!!!

    Responder

    1. Olá João, agradeço seu contato e me desculpo pela demora em responder. Vamos direto à sua dúvida. Em português, existe um número enorme de palavras que admitem variações na pronúncia e, em muitas delas, essas variações se dão na separação das sílabas; o caso das paroxítonas terminadas em ditongo, que também podem ser pronunciadas como proparoxítonas, é apenas um deles. Há em português diversos encontros que podem ser tanto pronunciados como ditongos ou como hiatos, por exemplo: ai-ro–so ou a-i-ro-so; car-dio-pa-ta ou car-di-o-pa-ta. No vocaluário ortográfico (e nos bons dicionários) essa dupla possibilidade é indicada por :. Assim: a:i-ro-so, car-di:o-pa-ta. Não há o que se falar em certo ou errado, ambas as pronúncias são comuns nos registros formais. Em síntese: é comum converter ditongos em hiatos e vice-versa. As gramáticas, por uma falha inexplicável, comentam isso apenas quando esse ditongo/hiato aparece em final de palavra paroxítona que é também pronunciada como proparoxítona. As duas pronúncias existem e são representativas da variedade culta.Observe as falas das pessoas e você verá que elas pronunciam: sé-ri-e, cá-ri-e. As gramáticas costumam dizer que essas palavras são paroxítonas e eventualmente são pronunciadas como proparoxítonas e as chamam de proparoxítonas eventuais. Há nisso um desconhecimento enorme. A pronúncia como proparoxítona não é eventual, é comum, muito comum. Daí chamar de proparoxítona eventual ser uma impropriedade. O melhor é sempre dizer que, nesse caso, como em tantos outros casos trata-se de palavra de dupla pronúncia, ambas representativas da variedade culta. A dupla pronúncia não se restringe à separação silábica: ela aparece na sílaba tônica (projétil / projetil ; boêmia / boemia; xérox / xerox); no timbre da vogal (badêjo / badéjo; pêgo / pégo etc.).

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