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Sem pretensão de esgotar o assunto, teço, em rápidas palavras, algumas observações que considero relevantes sobre gêneros do discurso.
Os gêneros do discurso se manifestam em textos concretos (por isso é que se diz também gêneros textuais ou ainda gêneros textuais-discursivos). Um texto resulta da superposição de um conteúdo a uma expressão, uma linguagem. Como a linguagem pode ser oral ou escrita, temos gêneros orais e escritos, conforme exemplificado no quadro a seguir.
Gêneros orais e escritos
| Gêneros escritos | Gêneros orais |
| Monografia | Telefonema |
| Currículo | Podcast |
| Receita médica | Consulta médica |
| Procuração | Exposição oral |
| Dissertação | Seminário |
| Artigo de opinião | Debate |
| Edital | Mesa-redonda |
| Parecer | Jingle |
| Verbete de dicionário | Juramento |
Certos gêneros se manifestam apenas na forma oral, o telefonema, por exemplo. Outros só na forma escrita, a monografia, por exemplo. Outros podem se manifestar tanto na forma oral quanto na forma escrita. Uma piada pode ser contada por alguém a outrem, que vai ouvi-la, portanto, ou enviada por mensagem de texto. Nesse caso, o destinatário vai lê-la. Uma entrevista pode ser feita oralmente com presença de entrevistado e entrevistador na cena da enunciação, ou por escrito, no caso de o entrevistador enviar um questionário para que o entrevistado responda e o envie posteriormente. Lembrando sempre que, nos gêneros orais, a recepção é imediata, ao passo que, nos escritos, ela ocorre em tempo posterior ao da enunciação. Nos gêneros orais, o destinatário não precisa estar necessariamente no mesmo espaço físico do destinador, como ocorre na conversação face a face, já que o desenvolvimento tecnológico permite a interação a distância, como ocorre nas videoconferências.
Vale ainda ressaltar que, por serem práticas sociais, os gêneros estão ligados às diversas esferas das atividades humanas, sejam públicas ou privadas. Há gêneros em que o oral e o escrito se mesclam. É o caso de uma apresentação com auxílio de PowerPoint ou de tutoriais veiculados pelo YouTube.
A seguir, alguns exemplos de gêneros relacionados à esfera discursiva, que é o lugar social em que o texto surge e circula.
Gêneros e esfera discursiva
| Esfera discursiva | Gênero |
| Acadêmica | Artigo, resumo, fichamento, monografia, dissertação etc. |
| Jornalística | Editorial, artigo de opinião, notícia, reportagem etc. |
| Publicitária | Anúncio, classificado, folheto, cartaz, outdoor, panfleto etc. |
Os gêneros do quadro anterior referem-se a esferas públicas. Há ainda os relativos à esfera privada, ou seja, aqueles que circulam nas relações cotidianas. São os gêneros da esfera interpessoal, como o as mensagens de WhatsApp, os lembretes, os e-mails.
Gêneros e registro
Registro é o nome que se dá à variação linguística em decorrência de fatores de natureza individual, podendo ser formal ou informal. Chamo a atenção para o fato de que informal e formal não devem ser vistos como polos absolutos; ao contrário, representam um continuum, indo do muito informal, como um bate-papo entre amigos, ao muito formal, como um discurso de posse.
O falante procede à escolha do registro em função do gênero e de sua esfera de circulação. Assim, há gêneros marcados pela informalidade, como uma piada ou uma mensagem via WhatsApp, e os marcados pela formalidade, como uma monografia, ou uma resenha. Por formalidade e informalidade representarem um contínuo, há gradações. Assim, teremos gêneros semiformais, como um artigo de opinião, e gêneros ultraformais, como o requerimento.
Gêneros e ações discursivas
São macroações discursivas narrar, descrever, argumentar e expor, que configuram quatro tipos de texto: narrativo, descritivo, argumentativo e expositivo. Os estudiosos do texto fazem ainda referência ao texto injuntivo e ao conversacional. Como todo texto se enquadra num gênero, temos gêneros narrativos, descritivos, argumentativos e expositivos, como exemplifico a seguir. No blogue, já tratei das macroações discursivas (os tipos textuais). Ver esses posts.
Gêneros e macroações discursivas
| Macroação discursiva | Gêneros |
| Narrar | Ficcionais: romance, conto, novela, lenda, fábula, piada, história em quadrinhos etc. Não ficcionais: notícia, reportagem, diário, biografia, relato etc. |
| Descrever | Cardápio, lista de compras, currículo, anúncios classificados, caricatura etc. |
| Argumentar | Artigo de opinião, editorial, dissertação, tese etc. |
| Expor | Aula, conferência, relatório, seminário etc. |
Um mesmo gênero pode se prestar à realização de macroações diferentes. Uma carta, por exemplo, pode ser usada para contar algo (carta narrativa); para defender um ponto de vista (carta argumentativa), para descrever algo ou alguém (carta descritiva), ou para transmitir um saber (carta expositiva).
Gêneros digitais e acadêmicos
O número de gêneros do discurso, se não é infinito, é muito grande, de tal sorte que é impossível fazer uma lista fechada deles. O importante é saber que gêneros não são textos; são práticas sociocomunicativas relacionadas às diversas esferas da atividade humana e, como essas são inesgotáveis, os gêneros também o são. Além disso, como as práticas sociocomunicativas são dinâmicas e se alteram, os gêneros se metamorfoseiam. Um gênero que hoje faz parte de nosso cotidiano, o blogue, é que a transmutação do antigo diário pessoal. Curiosamente, aquilo que era pessoal e íntimo, tornou-se público com o advento da internet.
Assim como o blogue, o mundo digital fez surgirem gêneros novos e deu cara nova a antigos: a carta pessoal metamorfoseou-se no e-mail. Com a internet, vimos aparecer gêneros que há poucos anos não existiam e que hoje fazem parte de nossas práticas cotidianas.
Além dos gêneros digitais, é importante que se tenha também familiaridade com os gêneros da esfera acadêmica, tais como a monografia, o resumo, o fichamento, a resenha, a dissertação etc., pois a competência nesses gêneros é fundamental para melhor aproveitamento nos cursos superiores. Mas lembre-se: gêneros são práticas sociais e o domínio deles se dá pelo uso em situações concretas de interação, por isso nada de decorar modelos, ou seguir receitas prontas.
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