Muito bom e ótimo?

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Outro dia, comentando um filme numa rede social, afirmei que o filme era “muito bom”. Uma pessoa postou um comentário em que discordava de mim. Afirma que o filme não era “muito bom”; segundo ela, o filme era “ótimo”. Evidentemente, essa pessoa considerava que há uma diferença de grau entre “muito bom” e “ótimo”. Para ela, ótimo estaria alguns graus acima de muito bom. Avaliar um filme como ruim, bom, muito bom, ótimo, etc. implica razões subjetivas. Não cabe neste post esse tipo de discussão. Vou tratar apenas da categoria grau do adjetivo.

Grau do adjetivo

O adjetivo é palavra que se refere a um substantivo (ou palavra que o represente) caracterizando-o, ou seja, atribuindo qualidade, estado, modo de ser. Do ponto de vista morfológico, o adjetivo apresenta as flexões de gênero e número.

Embora algumas gramáticas e a NGB afirmem que o adjetivo se flexiona em grau, essa informação não se sustenta, pois grau não é flexão. A alteração de grau de uma palavra (substantivo ou adjetivo) não interfere na concordância. Nos nomes, a flexão diz respeito às categorias de gênero e número e é marcada por morfemas gramaticais, as desinências.  

O adjetivo apresenta o grau comparativo e o superlativo. O grau comparativo, exceto alguns poucos adjetivos – bom, mau, grande e pequeno -, é formado pelo processo analítico (advérbio + adjetivo + [do] que).

O superlativo absoluto pode ser formado pelo processo analítico (advérbio de intensidade modificando o adjetivo: muito agradável, bastante agradável, muito fácil, demasiado célebre), ou pelo processo sintético (acréscimo de um sufixo: agradabilíssimo, facílimo, celebérrimo).  

Os adjetivos bom, mau, grande e pequeno apresentam ainda um superlativo absoluto irregular: ótimo, péssimo, máximo e mínimo, respectivamente.

Voltando à questão inicial. Quando se quer apresentar a qualidade expressa pelo adjetivo, indicamos isso pela variação de grau (e não flexão) e podemos fazê-lo por dois processos: o analítico e o sintético. Podemos dizer: É um filme muito bom ou É um filme ótimo. Tanto muito bom quanto ótimo expressam a qualidade bom em grau elevado, o primeiro é superlativo analítico; o segundo, sintético. Mas o sentido dessas duas formas superlativas é exatamente o mesmo?

O comentário do feito no post sobre o filme responde, sem teorizar, à questão. O leitor discordou de mim, no que se refere avaliação do filme, porque entendeu que o filme era mais que muito bom, ou seja, estava um grau acima de muito bom. O superlativo, com o perdão do trocadilho, não é um grau absoluto, pois há graduação. Algo assim (do menos elevado para o mais elevado):

bommuito bomextremamente bomótimo

Essa escala, evidentemente, pode ser ampliada. As variedades populares apresentam formas bastante criativas para exprimir a variação de grau, como bom pra burro, bom às pampas, bom pra

Por fim, a indicação de grau elevado também pode ser feita sem que se use uma forma gramatical do superlativo. Isso ocorre quando escolhemos um adjetivo cujo sentido é mais intenso que outro com o qual mantém alguma relação de sinonímia. Assim, um adjetivo no chamado grau normal pode estar exprimindo qualidade em grau elevado como ocorre com maravilhoso em relação a bonito. Compare: Paris é uma cidade bonita com Paris é uma cidade maravilhosa. O falante, ao optar pela segunda forma, acentua a qualidade ‘beleza’(Paris é uma cidade de grande beleza). Na fala, se pronunciar maravilhosa, escandindo as sílabas (ma-ra-vi-lho-sa), intensificaria ainda mais a qualidade expressa pelo adjetivo.

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