Não tem função sintática?

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Com muita frequência, recebo mensagens com perguntas de natureza gramatical. Como são muitas, não tenho tempo para respondê-las. Se optasse por fazer isso, não me sobraria tempo para mais nada.

Algumas dúvidas são procedentes, outras revelam uma confusão entre gramática e nomenclatura gramatical. Comento uma dúvida desse tipo neste post.

Foi-me apresentada a seguinte questão: preposições e conjunções têm função sintática? Essa pergunta aparece também redigida da seguinte forma: Li num livro que preposições e conjunções não têm função sintática. É verdade isso?

Existe uma coisa chamada Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), que normatiza os termos que se usam para designar fatos linguísticos. Para que não se usem nomes diferentes para nomear uma mesma coisa, recorre-se a uma nomenclatura padrão, a NGB.

Ocorre que essa nomenclatura apresenta uma série de problemas e qualquer estudante da língua portuguesa já deve ter percebido isso.

A NGB diz que o sujeito é um termo essencial. Essencial é aquilo que é absolutamente necessário, indispensável. O estudante encontrará, nas gramáticas, logo após essa definição de sujeito, que há orações sem sujeito. Se podemos ter uma oração sem sujeito, então o sujeito não é essencial. Problema de nomenclatura.

As gramáticas tradicionais, que costumam seguir uma nomenclatura de acordo com a NGB, ajudam a perpetuar essa confusão. Dizem que os termos integrantes da oração são o objeto direto, o objeto indireto, o complemento nominal e o agente da passiva. Ocorre que são comuns as contruções passivas em que o agente da passiva não se manifesta. Então seria o agente da passiva mesmo um termo integrante? Não seria um acessório?

A confusão evidentemente não deve ser imputada exclusivamente à NGB. As gramáticas também divergem na análise e classificação de determinados fatos linguísticos. Vejam um exemplo: há um tipo de construção que as gramáticas chamam de passiva sintética (Encontrou-se um cachorro abandonado). Para a gramática tradicional, essa oração é passiva porque seria a mesma coisa que Um cachorro foi encontrado, em que “um cachorro” seria o sujeito. Há controvérsias sobre isso.

Há quem entenda que não se trata de uma passiva mais uma oração ativa com sujeito indeterminado em que “um cachorro” é o objeto direto. Não cabe neste post aprofundar essa discussão, por isso volto à pergunta do leitor.

O adjunto adverbial, que a NGB classifica com termo acessório, é termo necessário, como em construções em que se liga a verbo para exprimir lugar, por exemplo: Moro em São Paulo, Estou em casa, Fiquei na fila, Vou para a Itália.

Preposições e conjunções são classes de palavras cuja função é relacionar outras, coordenando uma à outra, como a conjunção E, ou subordinando-as.

Atente para a palavra função que usamos para definir preposições e conjunções. Isso significa que preposições e conjunções exercem um papel sintático, qual seja, o de relacionar palavras ( e orações).

As gramáticas tradicionais (e a NGB) não têm um nome específico para nomear essa função. O que fazem alguns? Dizem que elas não têm função sintática. Claro que têm. A função é relacionar termos de uma oração ou orações de um período. Não é possível prescindir delas sem que desmonte a estrutura sintática da oração.

Alguns autores mais ponderados preferem dizer que, do ponto de vista sintático, são conectivos ou conectores. Note que, quando dizem conectivo, palavra que tem a ver com conexão, destacam o papel sintático de preposições e conjunções.

4 Comentários


  1. Olá, estimado professor. Achei fantásticas, em razão do valor esclarecedor, suas ponderações! Parabéns pelo texto.

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