Nomes comuns provenientes de antropônimos

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Aprendemos na escola que há nomes (substantivos) próprios e comuns. Os primeiros se referem a um ser específico e são, em geral, grafados com inicial maiúscula. Os segundos designam genericamente qualquer elemento de uma espécie. Assim, Valéria, Ivan e Recife são substantivos próprios e professora, aluno e cidade são substantivos comuns. Os substantivos próprios que designam pessoas são chamados antropônimos (Ivan, Marco Antônio, Valéria, Gabriela, etc.); os que designam entidades mitológicas são chamados mitônimos (Afrodite, Vênus, Vulcano, Zeus, etc.); os que designam lugares recebem o nome de topônimos (Recife, Manaus, Moscou, Pantanal, etc.).

Aprendemos ainda que há palavras primitivas (flor, pedra, jornal) e palavras derivadas (florista, pedreiro, jornalista). Normalmente, as derivadas resultam do acréscimo de um afixo (prefixo ou sufixo) à primitiva. Muitas palavras, em português, são derivadas de nomes próprios, sejam eles antropônimos, mitônimos ou topônimos. Assim, as palavras balzaquiana, venérea e moscovita são derivadas, respectivamente, do antropônimo Balzac, um escritor francês, venérea, do mitônimo Vênus e moscovita, do topônimo Moscou.

Em post anterior, apresentei alguns exemplos de nomes comuns derivados de nomes próprios. Abaixo, acrescento mais alguns exemplos àquela lista. Observe que, em todos eles, ocorre a presença de um sufixo; portanto essas palavras são formadas por derivação sufixal.

aristotélico, de Aristóteles;

adâmico, de Adão;

cabralino, de Pedro Álvares Cabral;

carolíngio, de Carlos Magno;

cartesiano, de René Descartes;

chauvinismo, de Nicolas Chauvin, soldado francês ridicularizado por seu extremo partriotismo;

colombiano, de Cristóvão Colombo;

daltonismo, daltônico, de John Dalton, físico e químico inglês, que sofria deste distúrbio da visão;

dantesco, de Dante, autor da Divina Comédia;

edipiano, de Édipo, personagem da tragédia Édipo Rei, de Ésquilo;

euclidiano, de Euclides, geômetra grego, ou Euclides da Cunha, escritor brasileiro;

freudiano, de Sigmund Freud;

homérico, de Homero, grego a quem se atribui a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia;

kafkiano, de  Franz Kafka;

linchar, do William Lynch, fazendeiro americano que, no fim do século XVII, instituiu um tribunal privado para julgar sumariamente criminosos apanhados em flagrante;

maquiavélico, de Niccolò Macchiavelli (1469-1527),  escritor florentino, autor de O príncipe;

masoquismo, de Leopold von Sacher-Masoch, escritor e jornalista austríaco, autor de A Vênus das peles;

narcisismo, de Narciso, entidade mitológica que se enamorou de sua imagem refletida nas águas, transformando-se na flor que leva seu nome;

pasteurizar, pasteurizado, de Louis Pasteur, cientista francês;

pitagórico, de Pitágoras, filósofo e matemático grego;

platônico, platonismo, de Platão, filósofo grego;

sadismo, sádico, de Donatien Alphonse François de Sade, o Marquês de Sade, nobre francês e autor de obras de caráter libertino;

socrático, de Sócrates, filósofo grego.

Neste post, em complemento à relação acima, apresento alguns nomes comuns que provêm de antropônimos e de um mitônimo. Nesta lista, ao contrário da anterior, temos substantivos comuns em que não houve acréscimo de sufixo, mas alargamento do significado por um processo metonímico, em que o nome próprio passou a ser usado como comum, como se faz quando usamos o substantivo judas para designar pessoa que trai a confiança que alguém lhe deposita e o substantivo caxias, que usamos para designar pessoa que cumpre com extremo rigor suas obrigações e responsabilidades. Seguem alguns exemplos.

baderna provém do antropônimo Marietta Baderna, nome de uma dançarina italiana que, causou estupefação no Rio de Janeiro em meados do século XIX pela sua conduta livre e rebelde;

braile provém do antropônimo Louis Braille, o inventor desse sistema de escrita;

carrasco provém do antropônimo Belchior Nunes Carrasco, algoz que teria vivido em Lisboa, antes do século XV;

celsius (escala celsius ou centígrada), provém do antropônimo Anders Celsius, astrônomo, físico e geofísico sueco;

gandula provém do antropônimo Bernardo Gandulla, jogador de futebol do Vasco da Gama que tinha o hábito de buscar as bolas que saíam de campo;

estrogonofe provém do antropônimo Paulo Stroganov, conde e diplomata russo que teria criado esse prato;

guilhotina provém do antropônimo Guillotin, médico francês que sugeria o uso desta máquina como forma de abreviar o sofrimento dos condenados à morte;

sanduíche provém do antropônimo John Montagu, conde de Sandwich, que, tendo ficado muito tempo numa mesa de jogo, teria se alimentado exclusivamente de fatias de carne fria colocadas entre duas torradas;

sax provém do antropônimo Antoine Joseph Sax, conhecido por Adolph Sax, um fabricante belga de instrumentos musicais, que inventou o saxofone;

volúpia (substantivo que significa grande prazer) provém do mitônimo Volúpia, deusa do prazer.

Há, evidentemente, ainda nomes comuns que provêm de topônimos por um processo metonímico em que o lugar passa a designar o produto, de que são exemplos madeira, pelo vinho fabricado na Ilha da Madeira; champanha, pelo vinho fabricado em Champagne na França); havana, pelo charuto fabricado em Havana. Mas isso é tema para um próximo post.

Se você tem mais exemplos de nomes comuns provenientes de antropônimos e mitônimos por alargamento de sentido, contribua com o blogue enviando o exemplo no comentário a este post.

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