O anel, um conto de Karen Blixen

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Karen Blixen, que também escreveu com o pseudônimo de Isak Dinesen, nasceu em Rungsted, Dinamarca, em 1885. Em 1914, vai para o Quênia junto com o marido para administrar um fazenda só retornando à Dinamarca em 1931, devido à crise do café, onde morre em 1962. Sobre o período em que Blixen viveu na África, há um bom filme,  Entre dois amores (1985), dirigido por Sydney Pollack, com Meryl Streep e Robert Redford nos papéis principais.

Blixen é uma excepcional contadora de histórias. Entre suas obras, destaco: Sete narrativas góticas, Anedotas do destino e A fazenda africana, este sobre o período em que viveu na África. Todos esses livros estão publicados no Brasil pela Editora SESI-SP. Blixen é autora do famoso conto “A festa de Babette”, que teve uma belíssima adaptação para o cinema com o mesmo título, num filme de 1987, dirigido por Gabriel Axel, com Stéphane Audran no papel de Babette.

O conto “O anel” faz parte do livro Anedotas do destino. Nele, a protagonista, Lise, vive com seu marido, Sigismund, numa área rural da Dinamarca, em que criam carneiros e são extremamente felizes. Certa feita Mathias, o chefe dos pastores, chama Sigismund, que está acompanhado de Lise, para lhe dar a notícia de que um cordeiro morrera e dois estavam muito feridos. Poderiam ter sido atacados por um lobo é uma das hipóteses.

A conversa prossegue e Lisa ouve que eles falam de um ladrão que havia invadido propriedades vizinhas para roubar animais e, numa dessas ocasiões, matara um homem e saíra ferido. Não querendo mais ouvir essa terrível história, Lisa resolve voltar para casa.

No caminho, esconde-se no bosque para ver a reação que seu vazio causaria no marido. Mas, após ter sua roupa rasgada, por se enroscar em galhos, ter um dos sapatos perdidos na lama, depara-se com um homem ferido que empunha uma faca apontada para seu pescoço. Lise, na tentativa de salvar-se, tira o anel de casamento e joga-o ao alcance do homem, que chuta o anel para longe, guarda a faca na bainha e some. Lisa sai do bosque e encontra o marido e lhe relata o ocorrido, dizendo que perdeu o anel. Ao que o marido pergunta: “Que anel? E Lisa lhe responde: “O anel de casamento, a aliança”. Ao ouvir a própria resposta, Lise toma consciência de que com o anel perdido casara-se com a solidão.

Esse conto permite ser lido como uma história maravilhosa dos irmãos Grimm. Estão lá o carneiro, o lobo, o sapato perdido, o homem mau que rouba cordeirinhos, o anel, o casal feliz, a bela mulher que se perde no bosque etc. Mas essas figuras, tão características de contos maravilhosos podem ser lidas com outro valor simbólico, caso se considere que o conto trabalha em seu nível profundo a categoria semântica do desejo, que determina as ações de Lise. Esse desejo que move Lise pode ser lido, simbolicamente, como um desejo sexual inconsciente.

Para Lise falta algo, há um vazio que ela busca preencher, seu estado é de incompletude. Quando ela se esconde no bosque é para saber o que seu vazio provoca no marido. Lise se esconde no vazio para preencher o vazio que sente. O que até então era inconsciente (ela de julgava feliz) torna-se consciente, no momento em ela toma consciência de que não há aliança (o anel) alguma com o marido. Sua única e real aliança é com a solidão.

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