O torniquete

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Neste post, falo da peça O torniquete (La morsa), peça em único ato de autoria do italiano Luigi Pirandello (1867 – 1936).

Há várias as obras literárias que tratam de triângulos amorosos. O desfecho costuma ser um final trágico com a morte de um dos adúlteros ou de ambos. Em outras, o marido traído ou supostamente traído é um sádico e se satisfaz com o sofrimento do amante. Em O torniquete somam-se as duas coisas: morte e sadismo.

A peça tem por base um conto de Pirandello chamado O medo. Os personagens são os mesmos, a história é a mesma. Na peça, há um desfecho trágico que não aparece no conto. Nele, como antecipa o título, o medo é o tema; o sadismo fica obliterado.

Os personagens centrais são três: Andrea Fabbri, Giulia e Antonio Serra, respectivamente, marido, mulher e amante. Há ainda a empregada dos Fabbri, Anna.

A ação começa quando Antonio procura Giulia para comunicar-lhe que o marido talvez saiba do relacionamento entre ambos e culpa Giulia por ter descuidado e dado a oportunidade de Andrea descobrir o caso amoroso deles. Giulia beijara Antonio na escada quando os amigos deixavam a casa dos Fabbri para irem viajar juntos a trabalho. Andrea teria visto esse beijo.

Antonio retorna antes para alertar Giulia de que o marido suspeita do caso amoroso, com base nas atitudes e falas de Andrea durante a viagem. A conversa entre o casal de amantes é muito tensa. Antonio, movido pelo medo, passa a culpar Giulia, acusando-a de imprudente. Esta se mostra mais racional que o amante e pede para que Antonio continue agindo normalmente e que venha, depois da chegada do marido, à casa do casal.

Andrea chega de viagem e demonstra tranquilidade, agindo como e costume. Traz presentes para as crianças, que estão na casa da mãe dele. A conversa entre o casal começa sendo a mais normal possível. Conforme combinado, Antonio vem à casa dos Fabbri para fazer parecer que está tudo normal. A partir daí, a conversa de Andrea com Giulia toma outra rumo. Andrea passa a contar a ela um caso de adultério que ouvira. Começa a dizer coisas como “se eu soubesse que minha mulher me traía, fingiria não perceber, esperaria que ela se denunciasse por si mesma”. Diz a ela que iria contando histórias de adultério e apertando-a, apertando-a cada vez mais (o torniquete, do título) até levá-la ao desespero e denunciasse a si mesma. O diálogo passa a ser uma sessão de tortura psicológica e de sadismo que leva Giulia ao desespero. É ponto alto da peça. Em seguida, o trágico desfecho e CORTINA.

Esta peça de Pirandello é de 1910 e sua encenação em São Paulo foi em 2017 pelo Grupo Tapa. Se um dia voltar a ser encenada não percam de jeito nenhum. É Pirandello na veia. A Editora Carambaia tinha lançado o livro Pirandello em cinco atos, com cinco peças do autor em tradução de Maurício Santana Dias. Nesse livro, uma das peças era O torniquete. O livro está esgotado. As cinco peças desse livro foram lançadas exclusivamente em e-books separados pela mesma Carambaia. Assim, é possível adquirir O torniquete por um preço baratim baratim. Quanto ao conto O medo, ele faz parte do livro 40 novelas de Luigi Pirandello, publicado pela Companhia das Letras, em tradução de Maurício Santana Dias.

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