Palavras invariáveis e sentido

Tempo de leitura: 4 minutos

É comum que a escola e os livros escolares tratem das classes de palavras ditas invariáveis, o advérbio, a preposição e a conjunção, classificando-as de acordo com os sentidos que expressam. Assim, ensina-se que os advérbios podem exprimir tempo, lugar, modo, afirmação, negação, etc. As preposições podem estabelecer relações de lugar, causa, meio, companhia, etc. e as conjunções podem indicar adição, adversidade, explicação, causa, finalidade, concessão, tempo, etc.

Isso pouco contribui para o desenvolvimento da competência na produção de textos, porque se parte da classe para o sentido, quando na prática o que ocorre é o inverso: o falante pretende veicular um sentido e vai buscar no inventário das palavras da língua aquela que traduz com mais eficiência aquilo que pretende veicular. Em outras palavras, na produção de textos (e na leitura também), parte-se do sentido (opor uma ideia a outra, dar a causa de algo, indicar o tempo, explicar, concluir, comparar, etc.) para a classe e o tipo de cada classe (conjunção subordinativa causal, conjunção coordenativa conclusiva, etc.) e não o inverso.

Por outro lado, uma volta ao primeiro parágrafo deste post mostra que um mesmo sentido pode ser expresso por classes diferentes. Podemos exprimir causa e tempo, por exemplo, usando advérbios, preposições ou conjunções. Além disso, os sentidos não são expressos apenas pelas classes ditas invariáveis. Orações do tipo, é provável que, e é certo que, por exemplo, exprimem, respectivamente, sentidos de dúvida e de afirmação (certeza) em relação àquilo que se declara. Há ainda os modos verbais e os diversos verbos que podem ser usados como modalizadores para exprimir, entre outras coisas, possibilidade e obrigatoriedade.

O que se propõe é que se apresentem diversos sentidos (oposição, explicação, causa, comparação, exclusão, etc.) e se indiquem as formas da língua, sejam elas palavras, locuções, expressões ou orações, que são comumente usadas para exprimir aqueles sentidos, sem necessidade de mencionar a nomenclatura gramatical específica, por exemplo, conjunção subordinativa causal ou conjunção coordenativa adversativa, advérbio ou locução adverbial de causa, etc. Claro que essa exemplificação não deve se ater a arrolar as formas linguísticas apenas (palavras e expressões), mas mostrá-las em enunciados concretos.

Como sugestão, poderia ser adotado como modelo, algo que contivesse três itens: sentidoexpressõesexemplificação, como sugerimos, simplificadamente, a seguir.

Sentido: causa (definindo-se o que se entende por causa, algo como: aquilo que provoca algo, razão de ser de algo, motivo).

Expressões: porque, como, devido a, já que, em razão de, em virtude de, etc.

Exemplificação: Em razão das fortes chuvas, os semáforos pararam de funcionar. Como os semáforos estavam quebrados, o trânsito ficou caótico.

Sentido: afirmação (definindo-se afirmação, como o ato de afirmar algo, isto é, de declarar algo, assumindo-o como verdadeiro, de atestar alguma coisa).

Expressões: certamente, efetivamente, evidentemente, com certeza, de fato, por certo, é certo que, é fora de dúvida que, etc.

Exemplificação: É certo que as fortes chuvas atrapalham o trânsito. Com certeza, os semáforos pararam de funcionar.

Sentido: oposição (definindo-se oposição como contrastar, contrapor coisas ou ideias divergentes).

Expressões: mas, porém, contudo, não obstante, ao contrário de, ao invés de, em contrapartida, por outro lado, etc.

Exemplificação: Muitos semáforos estavam quebrados, não obstante o trânsito não apresenta problemas. Ao invés do que previu a meteorologia, as chuvas vieram com fraca intensidade.

Esse procedimento tem a vantagem de ampliar o repertório de formas linguísticas do falante dando-lhe um grande leque de opções para a exprimir os sentidos pretendidos em seus textos. Lembro que os exemplos que apresentei de expressões não são exaustivos e não se trata de uma lista de conjunções (há palavras e expressões de diversas classes). A relação, evidentemente, deve ser ampliada. O mesmo ocorre com as frases exemplificativas.

Uma boa atividade seria reescrever as frases exemplificativas, usando outras expressões que manifestem o mesmo sentido. Essa atividade, em muitos casos, implicará alterações na redação da frase a fim de adaptá-la à nova expressão indicativa.

Por fim, informo que, no livro Expressões auxiliares da escrita: manual de consulta e prática, de Darcy Attanasio e Jucimara Tarricone, publicado pela editora Ibris Libris, as autoras apresentam inúmeras expressões, comentando seus sentidos com vastíssima exemplificação, sem ficarem presas a uma nomenclatura gramatical. É uma obra bastante útil para todo aquele que quer aprimorar a capacidade de produção de texto escrito. Para saber mais sobre essa obra, clique no link abaixo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.