Radical e raiz

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As gramáticas, ao tratar da estrutura das palavras, fazem a distinção entre morfemas lexicais, aqueles cuja significação aponta para um referente do mundo real ou imaginado, e morfemas gramaticais, aqueles que não têm um referente no mundo real ou imaginado. Esse tipo de morfema refere-se a conceitos que fazem parte do “mundo” língua. Sua presença (ou sua ausência) indica classificações formais como as categorias gramaticais (número, gênero, tempo, modo). O radical é um morfema lexical e não deve ser confundido com raiz. No artigo, comento a distinção entre um e outra.

O estudo da raiz das palavras é feito quando se estuda a língua do ponto de vista diacrônico, isto é, de sua história, das mudanças que a língua sofreu no tempo até chegar a um estágio mais atual. Isso significa que estudar a raiz de uma palavra é buscar sua origem numa língua antiga, grego ou latim, por exemplo.

Na busca da raiz de uma palavra, são feitas comparações entre palavras pertencentes a um mesmo tronco. O estudo da raiz das palavras diz respeito à filologia, à gramática histórica e à gramática comparativa, assuntos que exigem conhecimentos especializados e profundos. No Ensino Básico, esse assunto não é estudado, por isso não costuma aparecer em livros didáticos, que, ao estudarem os morfemas, partem do radical e não da raiz.  

Apenas para título de esclarecimento. As palavras ágrafo, autógrafo, epígrafe, ortografia, parágrafo provêm de uma mesma raiz grega: –graph, cujo sentido é ‘escrever’ (‘gráphein‘, em grego). Por terem a mesma raiz, apresentam um núcleo de sentido comum.

ágrafo: sem escrita;

autógrafo: escrito pela própria mão;

epígrafe: escrito no alto;

ortografia: escrita correta;

parágrafo: escrito ao lado

A classificação de um morfema como radical é feita com base numa perspectiva sincrônica, ou seja, não histórica. Toma-se como referência o estado da língua num determinado momento.

Costuma-se definir o radical como o morfema que contém a base da significação da palavra. O radical é uma espécie de núcleo da palavra, ao qual se agregam outros morfemas (desinências, afixos), existem, no entanto, palavras que apresentam apenas o radical, como sol e luz.

Em ferro, ferragem, ferreiro; menino, menininho, meninice; livro, livreiro, livraria, os radicais são ferr-, menin– e livr-. Como se pode notar, o radical, além de ser a base de significação da palavra, é o elemento comum às palavras de uma mesma família.

Nos exemplos acima, exemplifiquei usando apenas nomes, mas atente para o fato de que os verbos também possuem radical: canto, cantei, cantamos; vendi, vendeste, vendêssemos, dormia, dormimos, dormiremos.

Não é verdade que o radical não sofre alteração em sua forma, como nos exemplos apontados. Há casos em que o radical altera a sua forma. A forma diferente e de mesmo valor recebe o nome de alomorfe.

O radical do verbo ouvir é ouv-. Na primeira pessoa do plural do presente do indicativo (e nas formas daí derivadas), o radical ouv– assume outra forma ouç– (alomorfe). Isso não ocorre apenas em verbos (fazer / faço; pedir / peço). Em nomes também há alternâncias no radical: água / aquático; ouro / áureo; amável / amabilíssimo.


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