Gógol, o sociolinguista

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Nikolai Gógol (Hohol Mykola, em ucraniano), um dos mais importantes autores da literatura russa nasceu em 1 de abril de 1809 em Velyki Sorochyntsi, Ucrânia, e morreu em 4 de março de 1852 em Moscou.

Gógol cultivou vários gêneros literários com maestria, o conto, a novela, o teatro. Seus contos têm muito de observação da vida ucraniana. Sua relação com a Ucrânia é, no entanto, controversa. Suas obras mais conhecidas são Taras Bulba, O Inspetor Geral e Almas Mortas. Entre os contos, destacam-se O Capote, O Nariz.

Gógol é considerado o fundador da moderna literatura russa e sua obra exerceu forte influência em outros autores russos. Essa influência pode ser medida na famosa frase de Dostoiévski, “Todos nós viemos de O capote”, referindo-se a um dos textos mais conhecidos de Gógol.

Em Almas mortas, uma de suas grandes obras, há uma passagem em que o narrador, comentando a fala dos russos, chama a atenção para o espectro muito amplo de registros. Segundo Gógol, a fala dos russos da época do Império apresentava nuances de registro muito maiores do que outras línguas.

Gógol compara a fala do russo à do francês e à do alemão e afirma que essas não apresentavam tantas variações em razão da classe social do interlocutor. Ainda segundo Gógol, um russo não falava do mesmo jeito com um senhor que tinha 100 almas (servos) do mesmo jeito que falava com um senhor que tinha 200, e não falava com um que tivesse 300 do mesmo jeito que falava com um que tivesse 400 e assim por diante. A fala ia se alterando conforme o número de almas do interlocutor. A variação em russo parece revelar uma sociedade de castas. Segue o trecho de Almas mortas em que Gógol chama a atenção sobre isso.

“É preciso dizer que nós, na Rússia, se ainda não alcançamos os estrangeiros em algumas coisas, já os deixamos muito para trás no que diz respeito à perícia no trato com as pessoas. É impossível enumerar todas as nuances e sutilezas de nossas maneiras de dizer quando nos dirigimos uns aos outros. Um francês ou alemão nunca vai conseguir captar nem entender toda essa peculiaridade e diferença; eles se põem a falar com um milionário e com um pequeno vendedor de tabaco quase com a mesma voz e com o mesmo linguajar, embora, naturalmente, no fundo, se rebaixem diante do primeiro. Entre nós não é assim: temos sábios que, com um senhor de terras que possui duzentas almas, falam de maneira completamente distinta de como falam com outro, que possui trezentas, e falam ainda de modo diferente com um que possui quinhentas, e também não falam com o que possui quinhentas almas da mesma forma como falam com o que possui oitocentos; numa palavras, mesmo que cheguemos a um milhão de almas, sempre haverá nuances” (GÓGOL, Nikolai. Almas mortas. Trad. de Rubens Figueiredo. São Paulo: Editora 34, 2018, p. 58-59).

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