Texto e gêneros textuais

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A palavra texto recobre vários significados. Sua origem remete ao latim textus, que se liga ao verbo tecere, que significa “fazer tecido”, “entrelaçar”. Atendo-se à origem da palavra, o texto será visto como o produto, o de tecer, ou seja, como um tecido. A percepção de quem observa um tecido é a de que ele forma um todo que vai além de uma infinidade dos fios usados na sua confecção. Essa definição apresenta um problema: passa a ideia de que o texto é algo pronto, acabado e que, portanto, o papel do leitor, o destinatário final do texto, é passivo, ou seja, ele recebe um produto sobre o qual não tem poder nenhum. O leitor seria, nesse caso, um mero decodificador de mensagens alheias. Além disso, essa definição não se aplicaria a textos da era digital, os hipertextos, já que esses não se apresentam como acabados; pelo contrário, estão sempre em construção. Lembremos ainda que textos literários costumam se caracterizar pelo inacabamento. A marca deles é a pluralidade de sentidos. São verdadeiras obras abertas, já que leitores diferentes constroem sentidos diferentes para um mesmo texto.

Atualmente, a noção de texto como produto tem sido rejeitada, pois não leva em conta o importante papel do leitor na construção do sentido. O texto não deve ser visto como um produto, mas como um processo, ou seja, como algo que se constrói pela atuação conjunta de autor e leitor/ouvinte. O sentido não está, portanto, no texto em si, mas é construído na interlocução. Isso significa que o texto não se confunde com a materialidade em que ele é apresentado, um livro, um jornal, um cartaz por exemplo. Esses são apenas suportes para sua veiculação.

Características do texto

A primeira característica do texto é o fato de ser um todo organizado capaz de produzir sentido, ou seja, diz algo a alguém de maneira completa. A segunda é que é um objeto de comunicação entre sujeitos.

São exemplos de texto: uma aula, uma fotografia, um quadro, uma história em quadrinhos, uma charge, um filme, uma conversa, uma monografia, um post num blogue ou rede social, um curriculum vitae, um conto, uma crônica, um artigo de jornal ou revista. Como se pode notar, os textos não diferem apenas pelo assunto de que tratam, mas também pela maneira pelas quais se manifestam, o que permite agrupá-los em gêneros de texto. Cada texto é único, tem sua individualidade. Por outro lado, apresenta características comuns. Todo texto que se lê ou se escreve pertence a um gênero.

Em sentido amplo, denomina-se gênero uma classe de discursos, isto é, de realizações linguísticas. Uma teoria dos gêneros consiste, portanto, numa codificação de práticas discursivas. Novos textos individuais passam a ser produzidos de acordo com uma norma que constitui essa codificação. Nesse sentido, do ponto de vista dos produtores, os gêneros atuam como “modelos” e, para os destinatários, funcionam como horizonte de expectativas. Os gêneros têm caráter cultural e histórico, o que significa que há gêneros de uma cultura que não aparecem necessariamente em outras e que há gêneros estão ligados a uma cultura de um determinado tempo.

Na medida em que circulam entre sujeitos, os textos têm caráter cultural, pois são criações humanas, destinadas a seres humanos e trazem temas de interesse do público a que se destinam. Como são determinados por formações ideológicas específicas, a competência para produzir e entender textos não é apenas de ordem linguística, uma vez que envolve também conhecimentos de mundo, crenças e ideologias. Entre as diversas competências que mobilizamos para ler e produzir textos está a competência relativa ao gênero. Uma piada, que é um gênero de texto, deve ser entendida como piada e não como algo sério. Para dizer a alguém como se faz um bolo de banana, mobiliza-se o conhecimento que se tem do gênero receita culinária.

Ao afirmar que o texto é um todo de sentido, destaca-se que ele apresenta uma unidade temática, isto é, está centrado num mesmo tema do início ao final.  Tema é o mesmo que assunto, ou seja, é a resposta para a seguinte pergunta: De que o texto fala? E mais: qualquer tema pode ser textualizado. Mesmo em épocas de censura, muitos autores conseguiram falar de temas proibidos, valendo-se de recursos que lhes permitiram “driblar” os censores. A linguagem figurada é uma das formas que se tem para dizer aquilo que não pode ser dito num determinado momento e a literatura, mas não só ela, dá pistas de como fazê-lo.

Evidentemente, não basta que o texto tenha uma unidade temática, que fique, por exemplo, falando de ecologia ou de globalização do começo ao fim. É preciso também que apresente unidade estrutural, ou seja, que haja uma ligação lógica entre suas partes, que devem estar amarradas umas às outras, dando-lhe coesão e coerência. O texto não é um amontoado de frases, de sorte que, para sua produção, procede-se a escolhas como:

a) qual o gênero adequado (monografia, artigo, ensaio, requerimento etc.);

b) qual variedade da língua é adequada relativamente ao destinatário, tema, suporte etc. (norma popular, norma culta, linguagem técnica etc.);

 c) o que se pretende com o texto (convencer, informar, opinar, protestar, divergir etc.).

Isso é fundamental; pois, em função das escolhas que fizer, quem produz o texto fará uso de estratégias que permitirão alcançar os efeitos pretendidos.

Quando se afirma que o texto é um objeto de comunicação entre sujeitos, ressalta-se seu caráter dialógico, decorrente da interação verbal. No caso do texto escrito, esse diálogo não se dá em presença do leitor. É preciso, portanto, que o autor construa mentalmente a imagem do destinatário de seu texto, pondo-se no lugar dele, respondendo a perguntas como: Quem vai ler meu texto? Com que finalidade vai lê-lo? O que ele pretende encontrar no texto? Que conhecimentos prévios ele tem a respeito do tema? Essas informações são essenciais para adequar o texto em função do leitor, pois elas permitem escolher não só o que se vai dizer, mas também como dizê-lo, e assim proceder às escolhas para que a função comunicativa do texto seja alcançada.


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