Texto e hipertexto

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No último post, comecei a tratar do tema das mudanças tecnológicas e sua relação com os gêneros textuais. Neste, teço algumas breves considerações sobre hipertexto.

Avanços tecnológicos trouxeram novos suportes e, em consequência, novas práticas de leitura. Giselle Beiguelman, na obra O livro depois do livro, ressalta que as mudanças nas práticas de leitura são muito mais vagarosas que as tecnológicas, o que implica que as novas formas de ler não sucedem imediatamente às alterações na tecnologia. Basta ver que na era da informática ainda mantemos modos de ler característicos da leitura de livro impresso.

Apesar das significativas mudanças tecnológicas, ainda interagimos por meio de textos orais e escritos. Textos, como já tratei em diversos artigos deste blogue, são objetos de comunicação entre sujeitos que resultam da superposição de dois planos interdependentes: uma expressão material e um conteúdo de ordem cognitiva.

Nos textos verbais, como já mostrei em outros posts, o plano da expressão é representado por palavras que se organizam em frases que se apresentam em uma linha horizontal. Quando escrevemos, dispomos as palavras uma após as outras da esquerda para a direita e de cima para baixo. Em síntese: o plano da expressão dos textos verbais é linear.

As novas tecnologias permitiram a produção de textos não lineares, mas em forma de rede. A esses textos que apresentam uma estrutura reticular, damos o nome de hipertexto. A figura abaixo representa a estrutura do hipertexto.

Em um texto, a ordem de leitura é imposta e tem de ser obedecida rigidamente. Se alterarmos a sequência, o sentido fica incompreensível. Nos textos verbais, a linearização é uma força coercitiva do discurso, ou seja, não podemos ler o texto de outra maneira. A figura abaixo ilustra o plano da expressão dos textos verbais.

Se no hipertexto podemos começar a leitura em A, depois pular para E; depois para G… e, por fim retornar a A, criando nós próprios o percurso, no texto, somos obrigados a seguir rigidamente a linha que vai de A para G.

Em virtude dessa possibilidade que o hipertexto dá de escolhermos o caminho a seguir é que se usa a metáfora navegar e a tecnologia que nos permite navegar pelo ciberespaço receba o nome de navegador.

Outra característica do hipertexto é a possibilidade de ele congregar diferentes linguagens. Podemos pular de um texto exclusivamente verbal, para um texto não verbal ou sincrético, acessando imagens, filmes, animações, músicas.

O que permite que passemos instantaneamente de um texto a outro são os links, que são nós ou elos associativos presentes no texto que, acionados levam para outros textos que, por sua vez, podem conter links que remetem a outros textos, formando uma rede de dimensões gigantescas. Os links estabelecem ligações eletrônicas de blocos de informações, denominadas lexias, que podem ser formadas por textos, imagens, vídeos, sons etc. Como os hipertextos não são lineares e hierarquizados, o caminho da leitura não é dado previamente; ao fazer escolhas, o percurso é feito na medida em que se lê.

Os links são introduzidos por aquele que produz o texto. Em um processador de textos, o Word, por exemplo, basta selecionar o lugar em que se quer inserir o link e, na aba Inserir, clicar em Hiperlink. Uma caixa de diálogo será aberta e lá se escreve, ou simplesmente cola, o endereço da página para a qual se quer fazer o link. Evidentemente, a escolha por acessar ou não o link será do leitor.


Esse assunto é tratado em nosso livro Práticas de leitura e escrita, publicado pela Editora Saraiva. Para mais informações, clique no link abaixo.

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