O texto expositivo

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Introdução

Nos dois últimos posts, tratei das macroações discursivas narrar e descrever. Abordei os tipos textuais narrativo e descritivo. Os artigos referentes a esses dois tipos textuais podem ser lidos clicando nos links. Prosseguindo no tema, comento, neste artigo, o texto expositivo.

O texto expositivo

Como o nome indica, a macroação a que se presta o texto expositivo é expor. Detenho-me nessa palavra. É formada pelo prefixo ex-, que indica ação para fora, que se junta ao verbo pôr; portanto expor é ‘pôr para fora’, ‘revelar’.

O texto expositivo tem por finalidade tornar algo desconhecido conhecido, por isso se trata de texto vinculado à transmissão de saberes. Manifesta-se em gêneros discursivos como enciclopédias, dicionários, livros didáticos, aulas, que não por acaso, são chamadas de expositivas.

Esse tipo de texto tem como pressuposto que o leitor ou ouvinte não sabe algo e a leitura ou a audição do texto o levará a saber, vale dizer o propósito comunicativo é fazer-saber. Ao contrário do texto argumentativo, de que ainda falarei em outro artigo, o texto expositivo não tem por objetivo convencer o leitor, tampouco polemizar, o que lhe confere um caráter de neutralidade, na medida em que o enunciador não toma posição, expondo o saber de modo imparcial. É preciso ressalvar que nenhum discurso é neutro, na medida em que o texto reproduz as crenças e as ideologias da sociedade em que foi produzido. O fato é que, dos tipos de texto, os expositivos são aqueles em que a argumentatividade é menos explícita. Embora exista, ela aparece camuflada.  

Por meio do texto expositivo, o enunciador pretende levar o enunciatário a compreender algo, portanto, são condições essenciais do texto expositivo: um saber do enunciador e um não saber do enunciatário. O texto expositivo é o meio pelo qual se dá a transferência desse saber. É necessário também que esse saber não seja incontestável, ou seja, ninguém vai escrever um texto para transmitir um saber que representa uma verdade incontestável como As pessoas nascem e morrem.  Para que cumpra sua finalidade, ele deve ser claro e objetivo. Para tanto, o enunciador poderá se valer de exemplos, ilustrações, gráficos e tabelas. Em geral, o texto expositivo procura responder a um questionamento, o que significa que ele pode ser entendido como uma resposta a uma pergunta. Dado seu caráter didático, os textos expositivos são, em geral, figurativos (ver o artigo Textos temáticos e figurativos, clicando aqui).

Segundo Bronckart,[1] as sequências textuais expositivas têm o seguinte esquema prototípico

constatação inicial > problematização > resolução > conclusão-avaliação

(apresentação do fenômeno)    (causas)    (informações adicionais)  (reformulação da constatação inicial)

Do ponto de vista gramatical, as palavras são usadas em sentido próprio e predominam períodos compostos em que as orações se relacionam por causa e efeito, explicação e finalidade. Os verbos normalmente são empregados no presente do indicativo.

Aqui, é necessário um esclarecimento. O presente a que me refiro é o chamado presente omnitemporal, ou seja, não se trata do presente que coincide com o momento da enunciação, como em “neste exato momento, escrevo sobre o texto expositivo”, mas um presente que abarca todas as épocas e que está presente em definições e verdades da experiência. Quando alguém faz a seguinte afirmação “Ao nível do mar a água ferve a 100 graus centígrados”, não está afirmando que no momento em que ocorre a enunciação a água ferve a 100 graus centígrados, mas que em qualquer tempo, presente, passado ou futuro, a água ferve a 100 graus, ou seja, enuncia-se uma verdade que não está situada no tempo.

O exemplo que segue exemplifica a sequência expositiva. Nele, a autora, que detém um saber, transmite-o ao leitor de forma objetiva e direta.

Narrador é o simulacro discursivo do enunciador, explicitamente instalado no discurso, a quem o enunciador delegou a voz, ou seja, o dever e o poder de narrar o discurso em seu lugar.[2]


[1] BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discurso: por um interacionismo sociodiscursivo. 2.ed. São Paulo: Educ, 2007.

[2] BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4.ed. São Paulo: Ática, 2003. p. 88.


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